Centro de Estudos Neo-Reichiano



A sustentação do grounding na alegria e na tristeza: um compromisso com o self
Por Suely Freitas e Rebeca Lea Berger
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Em primeiro lugar vou fazer algumas ponderações para estabelecer referências mínimas de ordem teórica. Quando nós – eu e Suely Freitas – pensamos na elaboração de um trabalho em cuja base se encontra a idéia de self, enquanto núcleo de impulso vital, nós partimos da seguinte questão clínica: como liberar a vida das dinâmicas que sufocam a vida. Esta é uma questão que faz parte da nossa prática clínica cotidiana e é objeto da Análise da Bioenergética enquanto proposta teórica de intervenção em psicoterapia.
Como pano de fundo de nossa cena clínica está a concepção de caráter enquanto um padrão típico de comportamento, uma atitude básica, uma direção única com a qual o indivíduo responde às forças da vida. Isto em qualquer situação (no que se incluí uma sessão de análise ou de psicoterapia) sendo assim uma forma de ser ou agir estruturada - e congelada nesta estruturação - que diminuí, limita, interfere nas funções vitais do ser. É exatamente a hipótese de que podemos definir e intervir sobre algo que diminuí, limita e interfere nas funções vitais do ser o que justifica nosso olhar analítico e nossa prática terapêutica.
O que vem a determinar essa forma enrijecida de ser, e também a própria relevância deste elemento nas questões e práticas relativas à saúde mental, emocional e psíquica, é objeto de discussão e de teorias divergentes. Mas vou partir dessa hipótese implícita de que temos uma estrutura de ego necessária para que a vida instintiva possa funcionar e que esta mesma estrutura (que é resultado de forças opostas entre si) faz às vezes de empecilho para a realização de uma vida mais completa. Em que pese à importância de pesquisar e refletir sobre a natureza destas forças, assim como de ponderar sobre a medida em é possível à vida humana ser vivenciada em plenitude e livre de empecilhos, não estenderei aqui esta discussão.
O que eu defino como nosso foco clínico é a identificação das dinâmicas de etiologia psicosexual que sufocam a vida, determinando estruturalmente tensões, bloqueios, zonas de anestesia, zonas de flacidez, zonas de despotencialização em nosso corpo de sensações, o qual se pode acessar (entre outras formas) pelos corpos muscular e respiratório. O corpo de sensações é o corpo com o qual recebemos as informações e impressões do mundo - como um campo de forças - sob a forma de ondas nervosas percorrendo nossas carnes. Uso essa caracterização de corpo de sensações feita pela autora Suely Rolnik porque nos ajuda a visualizar esse que ela denomina de corpo vibrátil, como sendo o corpo que perde a vitalidade, perde a capacidade de responder com energia de criação às demandas da vida, tanto às demandas cruéis quanto às demandas generosas, nas formas atuais de subjetivação. Paralela à compreensão histórica psicosexual da diminuição da potência de criação perpassando as psicopatologias, podemos contemplar também a visão de como essa perda vai se atualizando constantemente na subjetividade, considerando as dinâmicas determinadas pela organização sócio-econômico-cultural.
Voltando agora ao trabalho de intervenção com vistas ao cuidado psicoterapeutico temos no conceito e na técnica de grounding um recurso de diagnóstico e intervenção para a análise e abordagem das forças de resistência e para restabelecer possibilidades de as forças criativas se manifestarem.

À possibilidade de ter a sensação do contato entre os pés e o chão, denominamos grounding, termo que podemos traduzir para o português como estar enraizado, mas que preferimos o uso em inglês, denotando uma categoria técnica e conceitual. Este conceito dá corpo à noção de equilíbrio emocional e psíquico. É interessante como Alexander Lowen nos chama a atenção para o fato de que na linguagem popular, quando queremos dizer que alguém é equilibrado psiquicamente dizemos que o sujeito tem os pés no chão. E para o fato de a própria palavra “equilíbrio” denunciar a unidade corpo -psiquismo revelando como esta noção está presente intuitivamente nos significantes de funções psíquicas. A unidade corpo/psiquismo é um pressuposto fundamental no enfoque e na prática da análise bioenergético em particular e no campo reichiano em geral.
Podemos falar em estar grounded nos referindo tanto a estar em contato com a realidade de si mesmo - sentimentos, sensações, sexualidade - com a realidade do outro, com o mundo. Estar em grounding é poder responder com as forças da criação às mudanças que a vida traz, é ser afetado pela relação com o mundo e poder suportar as ondas de sensações que pulsam exigindo mudanças nas representações que constituem nossas imagens de nós mesmos e do outro. Estar grounding é poder se conectar e suportar a pulsação do corpo de sensações e poder renunciar às ilusões e voltar para o chão e realidade.
Agora, a condição existencial e as ações direcionadas por imagens mentais desconectadas da realidade corporal podem ser consideradas como realidade de um falso self, sempre em contraposição à condição existencial e à ação direcionadas pelo self e por necessidades que se apóiam na realidade corporal, o que não exclui ser afetado pela presença do outro. Experimentar a integridade do self diz respeito à possibilidade de estar grounded nos sentimentos e sensações. Essa integridade, que é qualidade intrínseca do self, se traduz na experiência de um fluxo harmônico da energia vital, sendo a percepção da realidade relacional e a auto-imagem sustentadas pelo contato com as necessidades vitais básicas.

Com a ação orientada pelas imagens idealizadas, direcionadas pelas ilusões, não só o corpo de sensações é amortecido quanto o organismo como um todo paga seu preço: essas imagens para serem sustentadas demandam um esforço empenhado no não sentir. Metaforicamente, no nível inconsciente, para obrigar meu organismo, infeliz num determinado momento, a mostrar alegria, é necessário um esforço do qual meu ser total tem de participar: distorcendo e deformando o fluxo natural da energia, criando zonas de tensão, flacidez, rigidez, despotencialização, que se expressam inclusive no corpo orgânico. Da mesma forma se for preciso por qualquer razão ocultar um estado de alegria profunda, de excitação do meu ser, é necessário muito esforço orgânico para tal. Este é o esquema bioenergético que descreve a construção precoce da estrutura neurótica, mas pode ser também o esquema básico da manutenção atualizada desta estrutura a cada experiência. Na medida em que vivemos sob pressão de imagens desconectadas ou conflitadas com o nosso self se torna difícil para nós mantermos nosso senso de integridade quando somos inundados por grandes ondas de excitação ou quando somos pegos em situações de tristeza.
Para tornar possível o aprofundamento e a expressão de sentimentos negados e evitados, assim como criar condições de sustentação da pulsação das sensações advindas do ser afetado pela presença do outro - pelas forças do mundo - acreditamos que em cada camada é necessário trabalhar no grounding corporal. Um trabalho literalmente passo a passo, criando novos padrões (musculares, respiratórios e psíquicos) para que ele possa sustentar o self em sua intensidade e integridade.
REBECA LEA BERGER
Psicóloga, Psicoterapeuta Reichiana; Local Trainer do Inst. Análise Bioenergetica de São Paulo, Especialista em Psicanálise e em Saúde Pública.
SUELY FREITAS
Psicóloga, Psicoterapeuta, Local Trainer e diretora presidente da Sociedade de Análise Bioenergética Lumen de Ribeirão Preto; Diretora Fundadora do Instituto Neo-Reichiano Lumen




Em primeiro lugar vou fazer algumas ponderações para estabelecer referências mínimas de ordem teórica. Quando nós – eu e Suely Freitas – pensamos na elaboração de um trabalho em cuja base se encontra a idéia de self, enquanto núcleo de impulso vital, nós partimos da seguinte questão clínica: como liberar a vida das dinâmicas que sufocam a vida. Esta é uma questão que faz parte da nossa prática clínica cotidiana e é objeto da Análise da Bioenergética enquanto proposta teórica de intervenção em psicoterapia.
Como pano de fundo de nossa cena clínica está a concepção de caráter enquanto um padrão típico de comportamento, uma atitude básica, uma direção única com a qual o indivíduo responde às forças da vida. Isto em qualquer situação (no que se incluí uma sessão de análise ou de psicoterapia) sendo assim uma forma de ser ou agir estruturada - e congelada nesta estruturação - que diminuí, limita, interfere nas funções vitais do ser. É exatamente a hipótese de que podemos definir e intervir sobre algo que diminuí, limita e interfere nas funções vitais do ser o que justifica nosso olhar analítico e nossa prática terapêutica.
O que vem a determinar essa forma enrijecida de ser, e também a própria relevância deste elemento nas questões e práticas relativas à saúde mental, emocional e psíquica, é objeto de discussão e de teorias divergentes. Mas vou partir dessa hipótese implícita de que temos uma estrutura de ego necessária para que a vida instintiva possa funcionar e que esta mesma estrutura (que é resultado de forças opostas entre si) faz às vezes de empecilho para a realização de uma vida mais completa. Em que pese à importância de pesquisar e refletir sobre a natureza destas forças, assim como de ponderar sobre a medida em é possível à vida humana ser vivenciada em plenitude e livre de empecilhos, não estenderei aqui esta discussão.
O que eu defino como nosso foco clínico é a identificação das dinâmicas de etiologia psicosexual que sufocam a vida, determinando estruturalmente tensões, bloqueios, zonas de anestesia, zonas de flacidez, zonas de despotencialização em nosso corpo de sensações, o qual se pode acessar (entre outras formas) pelos corpos muscular e respiratório. O corpo de sensações é o corpo com o qual recebemos as informações e impressões do mundo - como um campo de forças - sob a forma de ondas nervosas percorrendo nossas carnes. Uso essa caracterização de corpo de sensações feita pela autora Suely Rolnik porque nos ajuda a visualizar esse que ela denomina de corpo vibrátil, como sendo o corpo que perde a vitalidade, perde a capacidade de responder com energia de criação às demandas da vida, tanto às demandas cruéis quanto às demandas generosas, nas formas atuais de subjetivação. Paralela à compreensão histórica psicosexual da diminuição da potência de criação perpassando as psicopatologias, podemos contemplar também a visão de como essa perda vai se atualizando constantemente na subjetividade, considerando as dinâmicas determinadas pela organização sócio-econômico-cultural.
Voltando agora ao trabalho de intervenção com vistas ao cuidado psicoterapeutico temos no conceito e na técnica de grounding um recurso de diagnóstico e intervenção para a análise e abordagem das forças de resistência e para restabelecer possibilidades de as forças criativas se manifestarem.

À possibilidade de ter a sensação do contato entre os pés e o chão, denominamos grounding, termo que podemos traduzir para o português como estar enraizado, mas que preferimos o uso em inglês, denotando uma categoria técnica e conceitual. Este conceito dá corpo à noção de equilíbrio emocional e psíquico. É interessante como Alexander Lowen nos chama a atenção para o fato de que na linguagem popular, quando queremos dizer que alguém é equilibrado psiquicamente dizemos que o sujeito tem os pés no chão. E para o fato de a própria palavra “equilíbrio” denunciar a unidade corpo -psiquismo revelando como esta noção está presente intuitivamente nos significantes de funções psíquicas. A unidade corpo/psiquismo é um pressuposto fundamental no enfoque e na prática da análise bioenergético em particular e no campo reichiano em geral.
Podemos falar em estar grounded nos referindo tanto a estar em contato com a realidade de si mesmo - sentimentos, sensações, sexualidade - com a realidade do outro, com o mundo. Estar em grounding é poder responder com as forças da criação às mudanças que a vida traz, é ser afetado pela relação com o mundo e poder suportar as ondas de sensações que pulsam exigindo mudanças nas representações que constituem nossas imagens de nós mesmos e do outro. Estar grounding é poder se conectar e suportar a pulsação do corpo de sensações e poder renunciar às ilusões e voltar para o chão e realidade.
Agora, a condição existencial e as ações direcionadas por imagens mentais desconectadas da realidade corporal podem ser consideradas como realidade de um falso self, sempre em contraposição à condição existencial e à ação direcionadas pelo self e por necessidades que se apóiam na realidade corporal, o que não exclui ser afetado pela presença do outro. Experimentar a integridade do self diz respeito à possibilidade de estar grounded nos sentimentos e sensações. Essa integridade, que é qualidade intrínseca do self, se traduz na experiência de um fluxo harmônico da energia vital, sendo a percepção da realidade relacional e a auto-imagem sustentadas pelo contato com as necessidades vitais básicas.

Com a ação orientada pelas imagens idealizadas, direcionadas pelas ilusões, não só o corpo de sensações é amortecido quanto o organismo como um todo paga seu preço: essas imagens para serem sustentadas demandam um esforço empenhado no não sentir. Metaforicamente, no nível inconsciente, para obrigar meu organismo, infeliz num determinado momento, a mostrar alegria, é necessário um esforço do qual meu ser total tem de participar: distorcendo e deformando o fluxo natural da energia, criando zonas de tensão, flacidez, rigidez, despotencialização, que se expressam inclusive no corpo orgânico. Da mesma forma se for preciso por qualquer razão ocultar um estado de alegria profunda, de excitação do meu ser, é necessário muito esforço orgânico para tal. Este é o esquema bioenergético que descreve a construção precoce da estrutura neurótica, mas pode ser também o esquema básico da manutenção atualizada desta estrutura a cada experiência. Na medida em que vivemos sob pressão de imagens desconectadas ou conflitadas com o nosso self se torna difícil para nós mantermos nosso senso de integridade quando somos inundados por grandes ondas de excitação ou quando somos pegos em situações de tristeza.
Para tornar possível o aprofundamento e a expressão de sentimentos negados e evitados, assim como criar condições de sustentação da pulsação das sensações advindas do ser afetado pela presença do outro - pelas forças do mundo - acreditamos que em cada camada é necessário trabalhar no grounding corporal. Um trabalho literalmente passo a passo, criando novos padrões (musculares, respiratórios e psíquicos) para que ele possa sustentar o self em sua intensidade e integridade.
REBECA LEA BERGER
Psicóloga, Psicoterapeuta Reichiana; Local Trainer do Inst. Análise Bioenergetica de São Paulo, Especialista em Psicanálise e em Saúde Pública.
SUELY FREITAS
Psicóloga, Psicoterapeuta, Local Trainer e Diretora Presidente da Sociedade de Análise Bioenergética Lumen de Ribeirão Preto; Diretora Fundadora do Instituto Neo-Reichiano Lumen

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